Uma família de imigrantes alemães vive à sombra das dores e consequências da segunda guerra mundial, estando longe de sua terra natal em meio ao marasmo e corrupção de uma pequena vila da Romênia. Não bastassem as agruras de uma região assolada pela guerra, as pessoas precisam conviver com o regime ditatorial do governante daquele país. A pobreza da população local contrasta com os privilégios e desmandos das autoridades da vila: o policial e o padre.
Assim, quando a família tem a oportunidade de retornar para Alemanha, um novo desafio se coloca frente a essa possibilidade: o desejo sexual das autoridades pela única filha dos imigrantes. Com essa história brutal, a escritora Herta Müller desenvolve uma imagem nada bonita sobre um passado recente em que as autoridades se aproveitavam de pessoas humildes. Mais que isso, a autora pincela com palavras uma paisagem arrastada do cotidiano sofrido dos imigrantes alemães em meio a corrupção na Romênia e a devassidão de seus governantes.
Pelo conjunto de sua obra, Herta Müller foi agraciada com o prêmio Nobel de Literatura em 2009, o que só por isso já torna importante a leitura desse livro. Porém a escrita curta, eficaz e desconcertante de Müller é mais que uma justificativa para se debruçar pelas pouco mais de 150 páginas deste livro. A narrativa é curta também nos capítulos e pode até gerar um estranhamento inicial, mas a história vai tomando um rumo crescente na medida em que o destino dos personagens chega ao final da história. Um livro com temática triste, sincera e sem floreios, mas extremamente importante para os dias atuais.
Por Janary Damacena.